TRÍPOLI - Trípoli está empobrecida, Benghazi, insatisfeita e
no Saara os conflitos armados e sangrentos ainda não cessaram. Os
problemas econômicos, de segurança e de gestão na Líbia pós-Muamar
Kadafi são enormes. Mesmo assim, é com orgulho que a população do país
vai às urnas neste sábado, 7, pela primeira vez em 58 anos.

Tomas Munita/NYT
Eleições na Líbia ocorrem neste sábado
Entusiasmados e curiosos com a perspectiva de democracia,
80% dos cidadãos aptos a votar estão inscritos para a eleição
legislativa de hoje, que definirá o primeiro governo eleito e uma
inédita Assembleia Constituinte.
A votação vinha sendo preparada nos últimos 260 dias, desde
a declaração de liberdade da Líbia, que se seguiu à execução de Kadafi
em Sirte, em 20 de outubro. Nesse intervalo, a Líbia foi dirigida pelo
Conselho Nacional de Transição (CNT), presidido por Mustafa Abdeljalil e
gerenciado pelo primeiro-ministro Abdelharim Al-Kib. O primeiro tinha
sua legitimidade contestada por ser ex-ministro da Justiça do regime,
enquanto o segundo é malvisto por ser um intelectual que não teria
participado ativamente da revolução iniciada em fevereiro de 2011.
É para substitui-los que 2,8 milhões de líbios vão às
urnas. Eles escolherão os 200 membros do Congresso Geral Nacional, que
sucederá ao CNT. O Parlamento a seguir definirá o nome de um
primeiro-ministro, que comandará o país durante a elaboração da
Constituição, uma etapa para a escolha do futuro presidente da
república.
"Estamos todos muito empolgados com as eleições. É um sonho
para todos nós, líbios, que jamais tivemos a oportunidade de votar na
vida", disse ao Estado o policial Fawzy Treesh, ex-funcionário da
Petrobrás em Trípoli.
Nas ruas da capital, o entusiasmo é perceptível. Milhares
de cartazes eleitorais foram espalhados pelas ruas, com slogans
partidários e fotos dos candidatos. Nesta sexta-feira, 6, dia sagrado
dos muçulmanos, a atmosfera foi de festa na cidade em virtude das
eleições, mas também pela disputa da final da Copa Árabe entre Líbia e
Marrocos.
Nada menos que 3,7 mil candidatos disputam um lugar no
Parlamento nas 72 circunscrições do país. Além disso, eles podem ou não
representar partidos políticos, pois o sistema escolhido foi misto – 120
deputados serão escolhidos pelo voto direto, e outros 80 por listas
eleitorais. O objetivo do método é evitar que um partido domine o
Parlamento, como ocorreu na Tunísia e no Egito. Assim, um governo de
coalizão deve ser necessário.
Essa missão caberá aos três partidos favoritos. Dois deles
são moderados: o primeiro é o Partido da Justiça e da Reconstrução, que
representa a Irmandade Muçulmana; e o segundo é a Aliança das Forças
Nacionais, centrista e laico, liderado pelo revolucionário e ex-premiê
do CNT Mahmoud Jibril. O terceiro é o Al-Watan, que reúne radicais
islâmicos e tem como líder Abdelhakim Belhadj, ex-chefe militar de
Trípoli.
Seja quem for o vencedor da eleição, o futuro premiê terá
grandes desafios. O primeiro é político – vencer a desconfiança dos
federalistas de Benghazi, um movimento minoritário, que lançou ataques
contra sessões eleitorais para exigir a autonomia das três províncias:
Tripolitânia, Cirenaica e Ferzan. Para convencê-los a participar da
eleição, a cidade de Zawiyah abriu mão de oito assentos no Parlamento em
favor de Benghazi.
Além da divisão política, será preciso superar os problemas
econômicos e sociais. Nas ruas de Trípoli, o empobrecimento e a
estagnação econômica são visíveis. A cidade está abandonada e cheia de
lixo e dezenas de prédios inacabados relembram a era Kadafi. O maior
desafio, porém, é a segurança pública. Por todo o país, as milícias
rebeldes seguem ativas e armadas, enquanto a polícia e o Exército apenas
começam a se organizar.
Uma pessoa foi morta hoje com um tiro quando viajava em um
helicóptero que levava propaganda eleitoral para a região de Benghazi.
Supõe-se que o crime esteja ligado às eleições.
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